segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Adolescência e identidade

Caros leitores, segue abaixo um ótimo texto da psicóloga Rosely Sayão, publicado na Folha de São Paulo:

Adolescência e Identidade

"Ser adolescente não é fácil e meus pais não percebem isso", disse-me uma garota de 15 anos, chorando.
Concordo com ela, por vários motivos. De largada, eles foram considerados "aborrecentes", uma expressão que deve ser riscada do vocabulário, já que sugere que os jovens aborrecem os adultos com suas crises, mudanças de humor, rebeldias etc.
Com sua presença, enfim.
A quem considera os adolescentes desagradáveis, lembro que todo adulto já encarnou um, fato que costuma ser convenientemente esquecido. E lembro, também, que é preciso entender que deixar de ser criança significa, primeiramente, perder muita coisa.
A ansiedade que os jovens sentem com as mudanças que ocorrem no corpo deles não é coisa pequena nesse mundo em que a aparência é tão valorizada, por exemplo. Mas hoje vou conversar sobre o processo de crise de identidade nessa fase.
Os pais são o prolongamento da criança, já que tudo o que ela faz passa por eles. Perder esse apoio e referência tão fortes provoca vulnerabilidade e é trabalhoso porque significa construir e procurar sua própria identidade. Isso supõe testar capacidades, aprender a reconhecer limites e riscos, organizar sua relação com o grupo e reconhecer o que quer e o que pensa, entre outros processos.
Passar por isso com a fragilidade que os adultos vivem nesse tempo só torna as coisas ainda mais difíceis. Essa é a crise de identidade, uma das passagens inevitáveis desse período.
Para saber quem quer ser, o adolescente precisa saber quem são seus pais. Para chegar a um local desconhecido é preciso estar bem localizado, saber onde está e de onde veio, não é?
O espírito da lei recentemente aprovada no Senado, que permite aos filhos adotados conhecer dados de seus pais biológicos, é esse. O problema é que esse conhecimento tem sido complicado porque muitos pais não dão rumo aos filhos.
"Você escolhe, você é quem sabe, você decide" são expressões que os pais dizem com frequência a filhos pequenos acreditando que, com isso, lhes dão autonomia. Não. Desse modo, negam aos filhos o conhecimento de quem são e de onde estão e a própria condição de criança. "Sou praticamente um adulto", ouvi um garoto de nove anos dizer.
Para tornar-se adulto, o adolescente precisa passar por sua crise dentro da família para conseguir se organizar fora dela. Por isso, os pais precisam "segurar a onda", apoiá-lo e se fazer presentes não fisicamente sempre que o filho precisar.
A família precisa ser continente para o filho em crise, mas muitos pais estão "caindo fora", como dizem os jovens.
Ser impotente para se relacionar com o filho adolescente parece uma epidemia e isso só agrega dificuldade à já difícil tarefa deles -como reclamou a garota citada-, que só colabora para o adiamento da aquisição de uma identidade.
Um adolescente não pode ser como uma criança, assim como um adulto não pode ser como um adolescente. Precisamos encontrar soluções para esse duplo problema.

Queria pegar carona no texto dela só para fazer uma pequena observação e trazer para a minha prática em orientação profissional e meus estudos na área de família.
"Você escolhe, você é quem sabe, você decide" são expressões que os pais dizem com frequência a filhos pequenos acreditando que, com isso, lhes dão autonomia.
Esse tipo de atitude também ocorre entre pais e adolescentes no momento da escolha profissional.
Alguns pais têm esse discurso: "Você pode escolher qualquer coisa, desde que seja feliz". Mas o que é para eles "ser feliz"?
Percebo que muitos pais preocupam-se em não influenciar os filho na escolha profissional, mas acabam por se isentarem, muitas vezes deixando o filho "sem chão".
Concordo quando a Rosely Sayão diz que a família precisa ser continente para o adolescente. A liberdade excessiva para escolher, em alguns casos, pode gerar mais insegurança. O apoio dos pais/família nesse momento de escolha profissional é de grande importância para o desenvolvimento do adolescente e para que ele possa refletir sobre o seu futuro apoiado em uma base familiar.

OBS: Este texto também está publicado no blog da autora http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/ que é ótimo e tem textos muito interessantes. Eu recomendo.